14 de setembro de 2011

Construindo referências para meu mundo interior

Por Eugenio Foresti*

Toda obra (de arte ou não) nasce de uma abstração, baseada nas referências adquiridas ao longo da vida, ou talvez herdadas, impressas no nosso DNA.
Quando adquiridas ao longo da vida, resulta do que vimos, lemos, ouvimos, tateamos, sentimos o cheiro e o sabor. Todas as sensações registradas em nossa mente criaram e continuam a criar nossas referências.
Ao nos depararmos com um castelo medieval, uma igreja gótica, um edifício, uma pintura renascentista, uma escultura, uma fotografia, uma comida exótica, uma fragrância, uma poesia, uma cafeteria na rua, e tudo o mais que nos é exposto, nossa “excitação” talvez tenha pouco a ver com a abstração original do criador. Tem muito a ver com nossas referências.
Muitas das nossas referências sobre algumas obras e artistas são solidamente construídas, porque já vimos muitas vezes imagens semelhantes, já lemos e ouvimos tanto sobre aquele tipo de obra ou artista. Não é incomum, para mim, ser relativamente pequeno o grau de excitação que algumas obras me provocam.  Muitas vezes, o grau de excitação é baixo se comparado, na minha escala interior, com a importância que outros e eu mesmo atribuímos à obra e ao artista.
Outras vezes, nossas referências são refeitas a partir de uma constatação ou aprendizado mais profundo. Isso ocorreu comigo várias vezes. Por exemplo, admirador da arte de Van Gogh desde meus primeiros anos de curso de engenharia, quando recortava e colecionava as figuras de pinturas que encontrava em revistas, eu mudei minhas referências sobre a arte “vangoghiana” quando vi, pela primeira vez, suas pinturas em Amsterdam, no “Van Gogh Centenary Exhibition”, em 2000. As tintas se projetando para fora da tela me surpreenderam e provocaram aquela sensação de encantamento difícil de explicar. Outro exemplo de mudança radical de referência, essa relacionada a um ensinamento, ocorreu com a obra de Rembrandt. Eu visitava, quase que por acaso, uma exposição de xilogravuras desse artista em Brasília e, lendo o catálogo da exposição, pude aprender sobre a importância da luz na obra de Rembrandt. Bastou essa informação, naquele momento, para que minhas referências em relação a ele fossem modificadas. Provavelmente, eu mesmo já havia lido sobre isso anteriormente. Mas, o aprendizado só foi possível naquele momento.
Uma viagem a outro país, ou a outro lugar no nosso país, pode mudar algumas de nossas referências. Uma viagem à Europa certamente enriquecerá nosso universo interior e adicionará ou recriará nossas referências culturais. Novamente, algumas imagens que registrei em minha mente e minha câmera fotográfica vão me valer apenas como registro. São imagens de referências já consolidadas. Para trazer para dentro de mim algo novo, uma nova excitação e não apenas a satisfação de estar ali, vendo com os próprios olhos um reforço de referências já consolidadas,  eu tento buscar o inesperado.
Para isso, foi imprescindível eu ter, à disposição, a janela de uma câmara fotográfica, que direcionou meu olhar seletivo para alguns detalhes e os registrou.
De todas as imagens que gravei com minha câmera, algumas me surpreendem até hoje. Não há como explicar essa sensação; sente-se ou não se sente.
A primeira foi feita no interior da galeria La Fayette, em Berlim. A galeria tem vários andares e na área central, há uma abertura que perpassa todos os andares, em forma de um imenso cone de parede de vidro. O efeito visual por si só é lindo; mas considero a foto surpreendente para os meus parcos dons de fotógrafo.

A segunda é a fachada de um edifício na Oxford Street, Londres. É como um imenso painel a partir do primeiro andar.  Considerei que os arquitetos erraram na fachada do térreo, que não valoriza o que está acima. Recortei a foto na janela de minha câmera para obter só o efeito que desejava.


A terceira é um painel em uma parede interna do Shoping Center em Londres, toda construída em troncos de primas espelhados.


A quarta é um recorte do edifício, com contornos retos e curvos e um céu azul com nuvens ao fundo.


Se eu fosse um pintor, gostaria de colocar, em pinturas, minha abstração a partir dessas imagens.

*Eugenio é engenheiro civil, professor universitário, com alma de artista e meu pai (pros desavisados). No tempo livre, faz desenhos abstratos em papel sulfite com grafite (e um dia eu ainda monto uma exposição deles :)).







2 comentários:

Pa disse...

Estou desesperadamente esperando a exposição.

Tio, uma amiga artista plástica, tem uma série de trabalhos que se chama Herança. Você pode ver aqui:
http://www.lienebosque.com/
Acho incrível o trabalho por entender o quanto de nós não é o que carregamos, e o quanto não é a surpresa de todo dia.

Beijo enorme da fã e sobrinha Pati

Anônimo disse...

Dois comentários:
O primeiro,sobre a apresentação que a Dé fez de mim. Sou muito ligado em artes visuais e gostaria de ter mais dons artísticos para colocar para outros o mundo, segundo a minha visão (romântica e bela, claro), talvez utópica.
O outro para a Pati. Vi o site de sua amiga. Ela sim é que tem o dom. desejo sucesso a ela. Diga isso a ela, nq primeira oportunidade.Beijos.